Chá, sorvete e franquia: maior que McDonald's, Mixue investirá no Brasil

A Mixue, maior rede de bebidas e sorvetes da China, está chegando ao Brasil com um plano de investimento de R$ 3,2 bilhões. A empresa anunciou que deve abrir unidades da marca no país, onde criará 25 mil empregos até 2030.

A rede chinesa ganha destaque internacional desde o início do ano, após uma reportagem do The Wall Street Journal revelar que a Mixue ultrapassou redes de fast food em número de unidades, como McDonald's e Starbucks, consolidando-se como a maior do ramo. Agora a gigante, que será o primeiro fast food do país asiático a desembarcar no Brasil, aposta nesse mercado como parte de sua estratégia de internacionalização. Ela já está em 12 outros países.

Como a Mixue superou o McDonald's e o Starbucks

A empresa foi fundada em 1997 por Zhang Hongchao, então um universitário. Surgiu como uma barraca de raspadinhas em Zhengzhou, província de Henan, na China. Foi só em 2005 que a marca passou a se chamar Mixue Bingcheng, traduzida como "palácio de neve doce". Na mesma época ela passou a diversificar seu portfólio, lançando cones de sorvete e outras bebidas geladas.

O negócio se manteve focado em preços baixos e cardápio enxuto. O destaque inicial eram sorvetes simples, que logo depois também passaram a ser comercializados com chá com leite e bolinhas de sagu, limonada, smoothies de frutas e café. A empresa se destacou com um cone de sorvete vendido por apenas 3 yuans (cerca de R$ 2,40) e as bebidas de bubble tea, smoothies e limonadas por menos de US$ 1. Hoje a média de preços dos sorvetes e chás gira em torno de 6 yuans (cerca de R$ 5) por produto.

A Mixue também focou no crescimento em cidades menores da China, onde os mercados consumidores são menos desenvolvidos. A empresa afirmou que tinha 17 mil lojas em cidades menores no final de 2023, superando a soma das quatro maiores concorrentes no país.

Tem uma estratégia agressiva de expansão. Segundo reportagem do Financial Times, a empresa vem quadruplicando seu número de lojas desde 2020. Até o final do ano passado eram 45 mil lojas espalhadas por 12 países, superando gigantes como McDonald's e Starbucks, que contabilizavam cerca de 41 mil e 40 mil lojas, respectivamente.

O modelo da rede é centrado em franquias. A Mixue cobra taxas abaixo da média do mercado e obtém receita principalmente com a venda de ingredientes e equipamentos para as lojas, uma estratégia que reduz custos fixos e permite escala. O que começou com uma máquina caseira de gelo virou um império também apoiado no marketing chamativo, com o mascote boneco de neve tão conhecido como o Ronald McDonald's e a trilha sonora repetitiva nas lojas "I love you. You love me. Mixue Ice Cream & Tea".

No exterior, a Mixue está presente desde 2018 no Vietnã. A operação também se expandiu por outros países como Austrália. A entrada no Brasil é um novo passo para ganhar espaço fora da Ásia, em mercados com alto consumo e potencial de crescimento.

A força da marca também se reflete no mercado financeiro. Em maio, a empresa abriu capital em Hong Kong e protagonizou o maior IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) do ano na cidade, levantando US$ 444 milhões. Os papéis estrearam com alta de 43%, refletindo a confiança de investidores no modelo de preços baixos e expansão agressiva. Hoje, Zhang, agora com 47 anos, e seu irmão mais novo, Hongfu, de 39, ficaram bilionários.

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Polêmicas e o futuro no Brasil

Apesar do sucesso, a Mixue não está imune a críticas. Em 2023, uma investigação revelou irregularidades em unidades da marca na China, como o uso de ingredientes vencidos e a contratação de funcionários sem registro. Mesmo assim, o ritmo de crescimento segue forte, sustentado por um apelo jovem, lojas visualmente marcantes e o que analistas têm chamado de "consumo racionalizado": produtos simples, baratos e populares, mesmo em tempos de incerteza econômica.

Com o investimento bilionário no Brasil, a Mixue se junta a outras gigantes chinesas que buscam novos mercados. A aposta é que o chá gelado e o sorvete acessível da marca encontrem, por aqui, o mesmo espaço que conquistaram em outros 12 países.

Segundo a Bloomberg, o mercado em que a Mixue concorre deve atingir US$ 71 bilhões em três anos. Ping Xiao, professora de marketing na Melbourne Business School, disse em entrevista ao Financial Times que mercados estrangeiros com presença de diáspora chinesa ou estudantes internacionais representam "uma oportunidade genuína para consumidores estrangeiros conhecerem marcas chinesas e a rica cultura do chá do país".

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  • Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, 3 yuans equivalem a cerca de R$ 2,40. A informação foi corrigida.

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