Amanda Klein

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Opinião

Acordo EUA-China pode reduzir queda do dólar e afetar inflação no Brasil

O acordo anunciado por Estados Unidos e China para reduzir tarifas recíprocas por 90 dias pode mitigar o efeito desinflacionário que o Brasil vinha colhendo desde o início da guerra tarifária, com queda do dólar, petróleo e outras commodities.

Fontes do Ministério da Fazenda admitem que, no curto prazo, o dólar ganha força. "Depende muito de como isso vai avançar. Mas a valorização do dólar pode se reverter facilmente de novo dependendo do que aconteça lá na frente", comenta um alto assessor de Haddad.

Outra fonte também da Fazenda argumenta que o efeito desinflacionário vai perdurar: "Ele já está acontecendo, talvez a intensidade se reduza, mas o petróleo a US$ 65 ainda assim é bem melhor para preços do que a US$ 70 ou US$ 75. A produção da Opep+ aumentou bem e a economia global dá mais sinais de desaceleração do que ao contrário. A tendência do petróleo é de queda, por mais que oscile para cima como hoje. Mas o dólar pode parar de cair, sim", admite.

A grande questão é como isso vai bater no Banco Central. O Copom divulga a ata da última reunião amanhã, mas deixou em aberto no comunicado da semana passada - em que aumentou o juros de 14,25% para 14,75% ao ano - se haverá mais uma alta.

Na perspectiva deste alto assessor de Haddad, "o que o Banco Central vai fazer de agora em diante não tem muita relação com isso (guerra comercial e preços). Até pode dar mais 0,25 pp, mas o fim do ciclo já está contratado". Já para o Ibovespa, ele acha positivo. "Devemos bater e consolidar patamar recorde da Bolsa no Brasil", conclui.

Para Álvaro Bandeira, Coordenador de Economia da Apimec, o dólar, que vinha perdendo valor contra moedas fortes e de países emergentes, pode se valorizar, assim como o petróleo e commodities agrícolas.

Num primeiro momento, haverá um fluxo de recursos menos intenso para o resto do mundo. E o efeito será benéfico para ativos de maior risco. Empresas tech, como Nvidia e Testa, vão se recuperar. Mas no médio e longo prazo, a segurança do dólar e ativos americanos como porto seguro ficou arranhada e será repensada. Álvaro Bandeira, Coordenador de Economia da Apimec

Roberto Padovani, economista-chefe do BV, conta que depois do Trump trade do início do ano, com perspectiva de dólar forte e atração de capital para os Estados Unidos, aconteceu o contrário com anúncio de tarifas em 2 de abril. Instalou-se uma crise de confiança com enfraquecimento do dólar e redesenho do comércio mundial.

O que vai acontecer agora é a história de meados de fevereiro. As tarifas tiveram extensão pequena, economia americana continua forte, haverá corte de impostos e ninguém está convencido de redução de gastos nos Estados Unidos. Há dificuldade de reduzir a inflação e o Fed manterá juros elevados. É a volta do dólar forte que pode nos prejudicar no Brasil. Haverá uma pressão adicional sobre o real e o Copom terá, assim, mais dificuldade em fazer inflação convergir para a meta. Com isso, será necessária uma alta adicional de 0,25pp da Selic em junho. Álvaro Bandeira, Coordenador de Economia da Apimec

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Lógico que todo o processo é muito incipiente. Hoje é dia de euforia nos mercados. E se há redução na incerteza global, investidores tendem a migrar para ativos de risco, o que pode favorecer o Brasil. O mundo de Trump muda em velocidade alucinante!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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