Graciliano Rocha

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Reportagem

O plano bilionário da Vale para lucrar com a escassez global do cobre

Em meio a um cenário de forte desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado global de cobre, a Vale anunciou nesta segunda-feira (16) novos investimentos de US$ 290 milhões (R$ 1,6 bilhão) em projetos do metal. É o primeiro anúncio de uma estratégia mais ampla de aumentar a capacidade de produção da matéria-prima.

A decisão vem num momento em que a produção mineral cresce em ritmo mais lento do que a capacidade global de refino - puxada, sobretudo, pela China.

Segundo o comunicado assinado pelo vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores, Marcelo Feriozzi Bacci, a empresa obteve a licença prévia para o projeto de cobre Bacaba, localizado em Canaã dos Carajás (PA). O projeto visa estender a vida útil do Complexo Minerador de Sossego, contribuindo com uma produção média anual de aproximadamente 50 mil toneladas por ano ao longo de 8 anos de operação.

O cobre, essencial para a transição energética por sua alta condutividade elétrica, é usado em cabos, motores elétricos, painéis solares e sistemas de recarga para veículos elétricos. É considerado um dos pilares da descarbonização da economia, ao lado do lítio e do níquel.

O mercado da commodity enfrenta um descompasso estrutural: enquanto novas fundições chinesas elevam a produção refinada a níveis recordes, a extração do minério segue limitada por gargalos geológicos e operacionais. De acordo com reportagem da Bloomberg, a China ampliou em 10% sua produção de cobre refinado no primeiro semestre, mesmo diante de tensões comerciais e desaceleração global.

Os preços da commodity refletem a tensão crescente. Dados de contratos futuros de Nova York mostram que a cotação do cobre superava US$ 4,82 por libra-peso às 11h de hoje, com alta acumulada de 0,15% no dia. Em três anos, os preços saíram da faixa de US$ 3,50 para picos acima de US$ 5,00 — com forte volatilidade a partir de 2024. O intervalo de negociação nos últimos 12 meses foi de US$ 3,92 a US$ 5,37.

O que está por trás desse rali é a combinação de:

  • crescimento acelerado da demanda por eletrificação, especialmente na Ásia e Europa;
  • investimentos aquém do necessário em novas minas;
  • desastres naturais e interrupções em grandes projetos, como o da Ivanhoe, na República Democrática do Congo, na África. Considerada a mina de cobre de maior teor, teve as atividades suspensas em maio devido à detecção de atividade sísmica na área de produção.

A estratégia da Vale

Para os produtores de minério, como a Vale, esse desequilíbrio pode representar uma vantagem estratégica. Com a escassez de concentrado, mineradoras bem posicionadas ganham poder de barganha. O investimento anunciado hoje durante a fase de implantação do projeto Bacaba visa iniciar a produção no primeiro semestre de 2028.

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No ano passado, a Vale produziu 348 mil toneladas de cobre nas minas que explora no Brasil e no Canadá. O novo comunicado ao mercado, protocolado hoje na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), reforça o foco na expansão da produção de cobre. A companhia já anunciou ao mercado um conjunto de iniciativas que visam levar a produção de cobre para a faixa de 420 mil a 500 mil toneladas em 2030, podendo atingir 700 mil toneladas até 2035.

O programa Novo Carajás, já anunciado pela companhia, prevê investimentos de US$ 13 bilhões (R$ 71,7 bilhões) até 2030, com foco em expandir as operações de produção de ferro e cobre no Pará. O projeto reúne expansões de minas já em operação e novos projetos dentro do cinturão mineral da Serra dos Carajás. O plano é não apenas impulsionar a extração de cobre e minério de ferro de alta qualidade, mas fazê-lo com investimento tecnológico de mineração a seco e com uso de tecnologias para reaproveitamento de rejeitos.

O presidente da Vale, Gustavo Pimenta, durante anúncio do programa Novo Carajás, em fevereiro
O presidente da Vale, Gustavo Pimenta, durante anúncio do programa Novo Carajás, em fevereiro Imagem: Jeferson Salazar / Vale / Divulgação

Além do Novo Carajás, outros projetos estão no radar da divisão Vale Base Metals, como o Salobo III, que entrou em operação no ano passado, e o projeto Alemão, também na região Norte do Brasil.

A Vale também concluiu no ano passado a expansão da mina Voisey's Bay, no Canadá, que permitirá aumentar a capacidade de produção de cobre, além de níquel. A capacidade de produção deste projeto é de aproximadamente 45 mil toneladas por ano de níquel, com mais 20 mil toneladas de cobre. O pico da capacidade de produção deve ser alcançado no segundo semestre de 2026.

Reportagem

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