José Paulo Kupfer

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Opinião

Novo recuo do IPCA em abril não significa fim das pressões inflacionárias

Comparada com os dois meses anteriores, a inflação de abril, medida pela variação do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), parece mostrar alívio no ritmo de alta dos preços, mas não é bem isso que está acontecendo.

Muito perto das previsões, a alta foi de 0,43% no mês, recuando da elevação de 0,64% em março e também da subida pesada de 1,31% em fevereiro. Mas a inflação continua em ascensão quando a medida é a variação acumulada em 12 meses.

Mais preços em alta

Nessa métrica, a alta do IPCA-15 em abril avançou de 5,26% em março para 5,49% em abril, ainda um pouco mais longe do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, que é de 4,5%, para um centro de 3%. De acordo com projeções, a inflação acumulada em 12 meses deverá subir nos próximos meses, até um pico em torno de 6% em agosto, descendo daí em diante, mês a mês, até fechar 2025 com alta nas vizinhanças de 5,5%.

Projeções sinalizam avanço um pouco menor quando for fechado o IPCA cheio de abril. De 0,43%, no período entre 16 de março e 15 de abril, a variação do índice cheio do mês deverá fechar em 0,41%.

O que não muda é que terá subido no mês um número alto de preços, o que se reflete no elevado índice de difusão próximo a 70% (em abril de 2024, houve elevação em menos de 55% dos produtos da cesta de bens e serviços do IPCA).

Outro sinal de pressões inflacionárias ainda firmes pode ser encontrado na evolução dos núcleos de inflação — medidas de variação de preços que desconsideram movimentos inesperados ou típicos de um dado período. A média dos núcleos subiu 0,47%, no IPCA-15 de abril, mas ficou bem acima da alta de 0,19%, em abril do ano passado. No acumulado em 12 meses, a média dos núcleos registrou alta de 5,02% (subiu 4,87%, em março).

Os alimentos continuaram a puxar a inflação para cima, no IPCA-15, com alta de 1,29% em abril, nos alimentos no domicílio, coadjuvados por itens do grupo cuidados pessoais e saúde — medicamentos, planos de saúde, médicos e produtos de higiene —que subiram 0,96%. Os dois grupos responderam por quase 90% da elevação da inflação em abril, na medição do IPCA-15.

Gangorra nos alimentos

Sobre o subgrupo sensível dos alimentos no domicílio, as projeções para a marcha da alta de preços ao longo do ano mostram volatilidade. Pode ocorrer um recuo acentuado nos próximos dois meses, com o retorno a altas moderadas — cerca de um terço menores do que as do primeiro trimestre. Mas, no acumulado em 12 meses, ocorreriam elevações fortes, chegando a 10%, em agosto. No conjunto do ano, enfim, a inflação de alimentos no domicílio, fecharia 2025 com alta de 7,5%, não mais do que um ponto percentual abaixo da elevação registrada em 2024.

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Em maio e junho, a tendência é de derretimento da inflação, com a variação de preços subindo menos de 0,2% e ficando praticamente estacionada em junho. De julho até o fim do ano, os preços de alimentos sobem em torno de 0,3%, com exceção de dezembro, quando voltariam a uma alta perto de 1%.

Para o autor dessas projeções, o economista Fábio Romão, especialista da LCA 4 Intelligence, e referência em acompanhamento de preços, os preços dos alimentos normalmente sobem menos no período que vai de maio a julho.

"Isso não se verificou em 2024 em razão da seca fora do padrão e, sobretudo, pela crise ambiental causada pelas enchentes que devastaram lavouras no Rio Grande do Sul. Mas em julho do ano passado, numa devolução das altas excepcionais dos dois meses anteriores, a inflação de alimentos apresentou forte recuo". Fábio Romão, economista da LCA 4 Intelligence

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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