PIB bombou mesmo no 1º tri, e agro é de novo a salvação da lavoura

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Já não há mais dúvidas de que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu forte no primeiro trimestre de 2025. Todas as projeções apontam avanço nas vizinhanças de 1,5%, em relação ao quarto trimestre de 2024, com expansão em torno de 3,5%, na comparação com o primeiro trimestre do ano passado.
Só falta a confirmação oficial dos números efetivamente apurados desse crescimento, previstos para serem divulgados pelo IBGE em 30 de maio. Desta vez, essa alta robusta não será surpresa, pois, depois de grandes desvios para baixo, nos dois anos anteriores, os economistas parecem ter conseguido ajustar seus modelos aos dados da realidade.
O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), uma "prévia" mensal do PIB, calculado pelo Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (19), apontou elevação de 1,3%, no período janeiro-março de 2025, sobre o intervalo outubro-dezembro de 2024, e alta de 3,7% sobre o mesmo período de 2024. Bancos e consultorias projetam ritmo de crescimento dessa mesma magnitude.
Governo e FGV (Fundação Getúlio Vargas) estão ainda um pouco mais otimistas. Em suas projeções mais recentes, também divulgadas nesta segunda-feira, preveem expansão de 1,6%, nos primeiros três meses do ano, e de 3,5%, na comparação interanual.
Com base nessas projeções, todos os analistas estão revisando para cima previsões do crescimento no ano completo de 2025. As estimativas de expansão avançaram de uma mediana de alta em torno de 1,8% para 2,3% e até 2,5%. O governo acabou de aumentar sua projeção de crescimento anual em 2025 de 2,3% para 2,4%
Ritmo menor
Será, se confirmadas as projeções, uma freada em relação à marcha da economia em 2024, quando o PIB cresceu 3,4%. Ainda assim, representaria um avanço robusto sobre uma base mais alta. Em três anos do terceiro mandato do presidente Lula, a economia terá crescido perto de 9% — média anual de 3%.
Faz sentido classificar de "forte" a expansão da atividade econômica, no começo de 2025, na medida em que se observa a taxa anualizada de crescimento. Caso a expansão de 1,3% se repetisse por quatro trimestres, o crescimento da economia, num ano, seria de 5,3%. Se a alta fosse de 1,6% a cada quatro trimestres, o ritmo de expansão chegaria a 6,5% em 12 meses.
A última vez que a economia avançou nesse ritmo foi em 2010 — e aquele foi um ponto fora da curva do padrão histórico, já que, em 30 anos, o crescimento médio anual mal passou de 2%.
Repete-se, neste primeiro trimestre de 2025, o que se verificou nos dois anos anteriores. O crescimento do período janeiro-março deve ser o de pico no ano. A atividade tende a desacelerar nos trimestres seguintes, com possibilidade de retração ou crescimento baixo no segundo semestre.
A hipótese da desaceleração tende a ser confirmada pelo fato de que o carregamento estatístico do crescimento do primeiro trimestre resultaria numa alta do PIB de 2,6%, mesmo se a expansão a cada um dos demais três trimestres do ano fosse zero. Se as projeções estiverem corretas, e o crescimento de 2025 for inferior a esses 2,6%, a indicação é de que deve ocorrer alguma pequena retração no segundo semestre.
Transbordamentos
Quase metade do crescimento do primeiro trimestre é de responsabilidade da agropecuária. Safras novamente recordes estão sendo colhidas, distribuídas e comercializadas no começo do ano, com destaque para a lavoura da soja. A perspectiva é de que o PIB do setor agropecuário concretize mais um trimestre excepcional, com alta superior a 12% sobre o mesmo período de 2024.
Assim como a agropecuária, a indústria extrativa mineral — petróleo e minério de ferro — igualmente sensível às condições de oferta, ajudaram a puxar o PIB do primeiro trimestre para cima. Houve ainda um transbordamento da atividade robusta desses setores para outros, mais sensíveis aos estímulos de demanda — indústria em geral e serviços.
Cálculos da consultoria MCM 4intelligence estimam crescimento do PIB, sem considerar o setor agropecuário, em 0,7%, no primeiro trimestre — uma expansão anualizada também respeitável, de 3%. Isso se deve ao fato de que, embora responda, diretamente, por menos de 10% na composição do PIB, o setor agropecuário influencia cerca de 25% da produção nacional total.
Um segmento que avançou, na esteira da atividade agropecuária, no setor de serviços, por exemplo, foi o de transportes, positivamente influenciado pelos fretes da safra. Assim como este, outros segmentos, na indústria, comércio e até mesmo na área imobiliária, registram crescimento no primeiro trimestre.
Outros impulsos
Também os programas sociais — com a contrapartida de déficits públicos — e as concessões de crédito compõem o quadro que explica a aceleração da atividade no começo de 2025. Ambos, porém, mostram tendência de perda de ritmo.
O crédito, que avançou, no geral, mais de 10% no ano passado, deverá reduzir a marcha, e expandir pouco acima de 5% em 2025. Essas projeções de contração do crédito se apoiam nos efeitos restritivos defasados do ciclo de altas de juros, iniciado em meados de 2024, que deve se manter nos atuais níveis elevados até o fim do ano.
Também as pressões para que o governo aumente o esforço para cumprir as metas do arcabouço fiscal deve operar na mesma direção de alguma contenção dos estímulos ao consumo, reduzindo a marcha de crescimento do PIB em 2025 e nos próximos anos.
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