Na Agrishow, linha dolarizada é alternativa a juros elevados para 2025/26

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A cada passo dado na Agrishow é possível olhar para o lado e ver alguém pronunciando palavras como: juros, Selic, financiamento, crédito.
Todo ano, a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina acontece nas vésperas do anúncio do novo Plano Safra, mas este término da temporada 2024/25 tem temperos a mais: a guerra comercial entre Estados Unidos e China, a rentabilidade do produtor após oscilações na cotação da soja e a inflação acumulada de 12 meses em 5,48% até março.
Junto à conjuntura de mercado, Carlos Aguiar, diretor de Agronegócios do Santander, fala que o produtor está de "ressaca" após três safras. E levará outras três para que haja uma recuperação com confiança.
"Durante a pandemia, tudo dobrou de preço, as cadeias globais foram rompidas e o frete ficou muito caro. Dobrou o custo por hectare, mas o mercado financiou, o produtor se empolgou, investiu, ampliou área e os juros (da taxa Selic) de 2% empolgou todo mundo. O produtor se endividou e, agora, estamos vendo uma ressaca. Embora o custo de produção por hectare tenha reduzido, as parcelas dos investimentos começaram a vencer e o juros que eram de 2% a 6% na pandemia agora estão em 15% mais o spread bancário", diz.
Aguiar conta que esteve na semana passada em Brasília com pessoas ligadas ao governo. Com exceção de algumas linhas mais voltadas à agricultura familiar, os juros para o Plano Safra empresarial devem ficar entre 19% e 20%."Dos 19% [de juros] que se paga hoje, 15% não é o Santander que está cobrando, é a Selic. Então, nesse mercado, está difícil pagar o investimento feito no passado com fluxo de hoje, mesmo com o preço da soja tendo melhorado", avalia.
Assim, a sensação desta Agrishow é a de que aquele produtor que precisa de crédito, tomará com o menor risco possível e ainda deverá se comprometer com o custeio da safra.
Linha dolarizada
Sem perspectivas de novos investimentos em tecnologia, ampliação de grandes áreas ou renovação das frotas, as companhias de máquinas agrícolas esperam reter o agricultor no estande pelo argumento da linha dolarizada do BNDES.
A Taxa Fixa BNDES em Dólar (TFBD) é composta por uma taxa fixa, definida no momento da contratação, e pela variação cambial do dólar. As taxas fixas mais recentes variam entre 5,06% a 5,17% ao ano, cujos prazos de pagamento serão entre 25 e 120 meses, com carência máxima de 24 meses.
O BNDES aplica um spread de 1% sobre os valores captados e os bancos que intermediam a operação adicionam sua própria margem. Dessa forma, a taxa final para o agricultor depende do custo inicial da captação.
Antonio Carrere, vice-presidente de vendas e marketing para a América Latina na John Deere, enxerga nos empréstimos em dólar uma alternativa para que os produtores rurais levem para a fazenda um dos 15 lançamentos que a companhia mostra na Agrishow.
"Com os juros em 15% a 18%, a conta não fecha. Uma alternativa que observamos é o financiamento em dólar, para quem tem capacidade de trabalhar com moeda estrangeira", pondera.
Marcelo Traldi, vice-presidente de Fendt e Valtra para América Latina, acha muito precipitado estimar as taxas de juros para 2025/26, mas espera que "o governo ajude" a conter a alta. Enquanto isso, para quem pode recorrer à linha dolarizada ajuda a amenizar a volatilidade.
Este é o ponto: para quem tem capacidade de operar com dólar. Se agricultores familiares são contemplados com taxas de juros menores no Plano Safra e os grandes produtores conseguem operar com a linha dolarizada do BNDES, como ficam empresários de médio porte? Para eles, surgem alternativas como os bancos das montadoras e o consórcio.
Alternativas para os médios produtores
A AGCO Finance é o banco de fábrica da Fendt e atende as outras marcas do grupo AGCO, como Massey Ferguson. Kellen Bormann, diretora de vendas da Massey Ferguson, também prefere não estimar os juros para a próxima safra, mas fala que o banco trabalha com "linhas espelho", ou seja, a contratação de crédito com as mesmas condições de linhas em real do BNDES.
"Estamos otimistas para a safra 2025/26, porque estamos colocando à disposição dos produtores uma série de alternativas para que ele não fique sem investir para a produção acontecer", diz.
Vittorio Rossi, sócio-diretor do consórcio Primo Rossi, está confiante que os produtores comecem a aderir ainda mais ao consórcio para máquinas agrícolas.
Dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios) mostram que o agronegócio representa cerca de 20% de todos os consórcios no Brasil, cujo valor é de mais de R$ 50 bilhões anuais. Dentro do segmento, máquinas agrícolas representam 25%.
"O consórcio permite previsibilidade, não compromete o valor para custeio da safra, o produtor fica sem depender das oscilações do Plano Safra. E ele está cada vez mais atento a esta alternativa", avalia Primo.
Na abertura da feira, no domingo, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que os ministérios estão empenhados a aumentar os recursos da temporada 2025/26.
"Nós vamos trabalhar para aumentar o valor do Plano Safra, e ele certamente exigirá uma equalização maior devido ao aumento da taxa Selic", disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Isso porque, tão importante quanto saber o volume de dinheiro disponibilizado é saber os juros a serem praticados, qual o montante equalizado pelo governo e quanto será de crédito livre praticado pelos bancos.
Em outras palavras, a indústria está criando um amplo leque de alternativas de financiamento para o agro continuar de pé, independentemente de governo.
Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária, e Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, tiveram conflitos nas respectivas agendas e não estão previstos a comparecer à Agrishow.
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