Vida curta e tamanho colossal: os 20 anos do primeiro voo do avião A380

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Há 20 anos, decolava pela primeira vez o Airbus A380, o maior avião de passageiros do mundo. Hoje, aquele que foi considerado o orgulho da aviação europeia, segue impressionando pelo tamanho e intrigando pela curta vida de fabricação que teve.
O projeto do A380 foi uma das apostas mais ousadas da história da aviação comercial. Criado para rivalizar com o lendário Boeing 747, o "superjumbo" europeu se mostrou um gigante em mais de um sentido: na engenharia, na ambição, mas também nos desafios logísticos e financeiros.
Um avião para superar o 747
Desde os anos 1970, o Boeing 747, fabricado nos EUA) reinava absoluto como o maior avião de passageiros do mundo. Não à toa, o modelo norte-americano sempre foi chamado "Queen of the Skies" ("Rainha dos Céus").
Nesse cenário, a Airbus, que começava a ganhar mercado com seus modelos menores, queria mostrar que também podia liderar o segmento de longa distância e alta capacidade.
A ideia de um avião ainda maior que o Boeing começou a ser estudada nos anos 1990. A Airbus queria algo que fosse além de tudo que existia: um avião que transportasse centenas de passageiros por vez, ideal para hubs congestionados como são Londres (Inglaterra), Dubai (Emirados Árabes Unidos) e Singapura.
A proposta era oferecer uma economia de escala inédita: menos voos para transportar o mesmo número de pessoas. E, de quebra, ainda tentaria abalar o domínio histórico da Boeing nesse mercado.
Assim, 2005 e 2021 foram produzidos 251 aviões no modelo A380. Ele decolou pela primeira vez no dia 27 de abril de 2005. Em comparação, foram 1.574 unidades do 747 foram fabricadas entre 1968 e 2023, seis vezes mais exemplares.
O nascimento do A380

O projeto foi oficialmente lançado no ano 2000, com o nome A3XX. Em pouco tempo, passou a se chamar A380, se tornando o primeiro avião de dois andares completos, algo inédito na aviação comercial (o 747 só tinha dois andares em parte de sua fuselagem).
A aeronave tem 73 metros de comprimento e 80 de envergadura, medidas que exigiam adaptações em aeroportos ao redor do mundo, que não estavam acostumados com medidas tão colossais. Ele também traria novas tecnologias em sistemas de voo, controle de ruído e uso de materiais compostos.
O desenvolvimento, no entanto, enfrentou atrasos e desafios de produção, mas isso não abalou o otimismo do mercado inicialmente. Emirates, Qantas e Singapore Airlines foram algumas das primeiras empresas a apostar pesado no novo gigante dos céus.
O primeiro voo
O primeiro voo do A380 aconteceu em 27 de abril de 2005, decolando de Toulouse, na França. A bordo estavam seis tripulantes de testes e toneladas de sensores e equipamentos que monitoravam cada detalhe do desempenho.
O voo inaugural teve grande cobertura da imprensa internacional. Dois anos depois, a Singapore Airlines fez o primeiro voo comercial da história com o modelo, entre Cingapura e Sydney (Austrália). Os bilhetes foram vendidos em leilão e incluíam cabines com camas, suítes fechadas e um bar a bordo.
Os operadores do A380

Dos 251 Airbus A380 produzidos, a companhia aérea Emirates foi, de longe, a maior operadora, com 123 unidades, praticamente metade de toda a produção global.
Outras companhias também usaram o avião em suas rotas principais, como Air France, Asiana, British Airways, Etihad, Korean Air, Lufthansa, Qantas e Qatar Airways. Algumas delas, como a Air France, retiraram o modelo de operação já antes da pandemia.
Com o tempo, o A380 se tornou um nicho. Poucas empresas tinham infraestrutura para operá-lo com eficiência. E menos ainda conseguiam lotar seus mais de 500 assentos com regularidade.
Até hoje, cerca de 177 unidades do modelo ainda se encontram em condições de voo, sendo que as demais unidades foram desativadas, desmontadas ou sucateadas.
Veja a lista com os principais operadores do modelo e a quantidade entregue ao longo dos anos:
- Emirates - 123
- Singapore Airlines - 24
- Lufthansa - 14
- British Airways - 12
- Qantas Airways - 12
- Air France - 10
- Etihad Airways - 10
- Korean Air - 10
- Qatar Airways - 10
- Asiana Airlines - 6
- Malaysia Airlines - 6
- Thai Airways - 6
- China Southern Airlines - 5
- All Nippon Airways - 3
Logo virou sucata
Apesar do glamour, o A380 mostrou logo suas limitações. Em 2017, menos de dez anos após entrar em operação, os dois primeiros aviões do modelo foram aposentados e desmontados.
Os exemplares pertenciam à Singapore Airlines, e, como não houve interessados em renová-los ou revendê-los, a solução foi desmontá-los para extrair peças para serem usadas em aeronaves em operação.
Foi um marco duro para um avião tão jovem. O fato de não ter encontrado um novo operador expôs as dificuldades de reintroduzir o A380 no mercado e acendeu o alerta na Airbus.
Por que parou?

O modelo era tecnologicamente avançado, mas a lógica do mercado havia mudado. Em vez de aviões enormes para rotas de hub a hub, as companhias passaram a preferir aeronaves menores, mais versáteis e de longo alcance, capazes de ligar cidades médias sem escalas.
Em 2019, a Airbus anunciou o fim da produção do A380, a ser concluído até 2021. Na época, Tom Enders, então presidente da Airbus, disse que o fim do programa era "doloroso", mas não havia outro caminho.
A pandemia acelerou esse processo. Com o colapso do tráfego aéreo internacional em 2020 e 2021, companhias viram no A380 um custo difícil de justificar: ele era pesado, exigia muita tripulação e consumia mais combustível que os concorrentes modernos (e menores)
Comparação com o Boeing 747
O A380 venceu o 747 em tamanho e capacidade, mas perdeu em versatilidade. Enquanto o Boeing foi adaptado para dezenas de missões (de cargueiro a avião presidencial) o A380 foi feito exclusivamente para o transporte de passageiros.
Mesmo assim, o Airbus levou a vantagem em conforto. O voo no A380 era mais silencioso, mais estável e mais espaçoso que em qualquer outro avião comercial.
Um possível renascimento?

Após a pandemia, a demanda por voos internacionais voltou a crescer mais rápido que o previsto. A escassez de aviões disponíveis fez algumas companhias revisitarem suas frotas estocadas.
Em 2023, a Lufthansa anunciou o retorno de seus A380 para voos entre Munique e destinos nos EUA. A British Airways, a Korean Air e a Emirates também mantêm os modelos em operação, algumas inclusive reformando interiores para dar sobrevida ao avião.
Hoje, a linha de montagem do A380 foi desmontada e substituída por outros modelos da Airbus. O futuro da aviação, ao que tudo indica, será mais eficiente do que grandioso.
Um legado técnico e emocional
O A380 nunca foi o sucesso comercial que a Airbus esperava, mas deixou uma herança importante. Ele provou que era possível repensar o conforto a bordo, abrir espaço para suítes, bares e novas formas de voar.
Mais do que um avião, ele se tornou ícone. Entusiastas ao redor do mundo viajam para voar no A380 "enquanto ainda é possível". E, mesmo nos bastidores, sua influência segue presente em tecnologias e processos usados em aeronaves atuais.
O gigante dos céus pode estar sumindo das rotas, mas ainda ocupa um espaço nobre no imaginário de quem ama voar.


Ficha Técnica
Modelo: A380
Fabricante: Airbus
Primeiro voo: 27 de abril de 2005
Unidades produzidas: 251
Comprimento: 72,7 metros
Altura: 24,1 metros
Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 79,8 metros
Capacidade: Até 853 passageiros, mas cada empresa escolhe uma configuração própria, sendo que a maioria gira em torno de 500 passageiros
Capacidade máxima de combustível: 320 mil litros
Autonomia (distância máxima voada): 15 mil km
Lançamento: Dezembro de 2000
Entrada em serviço: 25 de outubro de 2007, pela Singapore Airlines
Velocidade: Cerca de 1.000 km/h
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